O que as divisões do futebol britânico podem ensinar aos clubes menores do Brasil?

Separamos algumas reflexões sobre o futebol alternativo brasileiro tomando como base as divisões inferiores da Inglaterra.

A Premier League é a maior liga nacional de futebol no planeta, movimentando mais de 14 bilhões de reais entre os 20 clubes anualmente. A elite do esporte britânico traz as principais forças do país, como Liverpool, Manchester United, Chelsea e tantas outras equipes tradicionais da Grã-Bretanha.

Porém, o Campeonato Inglês é só o ápice de uma complexa árvore de torneios que movimentam o esporte bretão por todo o Reino Unido, principalmente na Inglaterra. No país europeu, as equipes de menor expressão contam com chances diferentes do que se vê no interior do Brasil e podem ensinar bastante para o nosso contexto.

Por isso, nós separamos algumas reflexões sobre o futebol alternativo brasileiro tomando como base as divisões inferiores da Inglaterra.

Será que o Brasil é mesmo o país do futebol?

A Seleção Brasileira é a maior campeã das Copas do Mundo. O maior jogador de futebol da história é brasileiro. Além do Rei Pelé, outros nomes fizeram sucesso no mundo, como Ronaldo Fenômeno, Kaká, Roberto Carlos e Ronaldinho. As equipes brasileiras da elite também têm lá certo espaço na mente dos fãs ao redor do planeta. Porém, será mesmo que o Brasil é o país do futebol? Há muita gente do meio que não acredita nessa máxima. Isso porque o interesse do brasileiro em futebol não é tão alto como se imagina. De acordo com uma pesquisa do O Globo, a maior torcida do Brasil é não torcer para nenhum time. Quando se trata de médias de audiência e de público, o país também não figura na lista dos maiores de todo o planeta.

Porém, na Inglaterra, o cenário é bem diferente. De acordo com uma pesquisa publicada pela UFF, do Paraná, a demanda por futebol no país britânico é consideravelmente maior que no Brasil, levando em conta dados de público e consumo. Além disso, o futebol no Reino Unido é bastante regionalizado, ou seja, a maior parte das pessoas torcem para as equipes próximas de sua região, o que fortalece também os times de menor expressão.

Dessa maneira, o futebol britânico mostra que os clubes brasileiros – de todos os tamanhos – não têm um público tão fiel quanto imaginam. Na verdade, para que o esporte cresça no país, é preciso investir no desenvolvimento da paixão pelo esporte e, consequentemente, pelas equipes de todos os níveis.

A rica parceria com o mercado de apostas

Um dos grandes parceiros do futebol britânico - até na Premier League - é o mercado de gambling. Isso porque as apostas esportivas são bastante populares na Terra do Rei. Devido a isso, os campeonatos dão um alto volume de entradas nos sites, o que retorna em termos de investimentos no clube e nas ligas.

No futebol brasileiro, ao longo dos últimos anos, sites de apostas como a Midnite têm investido mais na cobertura das odds de torneios de menor expressão de divisões inferiores a nível nacional. Cabe aos clubes aproveitarem as receitas por meio de contratos mais vantajosos. Para isso, o país ainda tem um longo caminho em relação à legislação.

E não só com o mercado de apostas!

Enquanto a Série A do Brasileirão até conta com uma competição em crifras altas pelos direitos televisivos e de naming rights dos torneios, as divisões inferiores sofrem muita dificuldade para encontrar investidores. Por outro lado, o campeonato da quinta divisão inglesa tem o nome pago pela Vanarama, entitulado ‘Vanarama National League’.

De fato, deve de se pesar o poder econômicos dos ingleses frente aos brasileiros. Porém, quando se trata da relação com empresas, as ligas brasileiras poderiam ser mais atrativas para atrair investidores, afinal, o orçamento para publicidade está disponível por muita gente interessada na área.

A complexa divisão do futebol inglês

Enquanto no Brasil os estaduais são responsáveis por boa parte do pequeno calendário das equipes interioranas, na Inglaterra é bem diferente, visto que não há uma ideia de ‘campeonatos por estado’, pelo menos não nesse sentido. Isso porque o futebol inglês traz uma cascata bem densa de ligas que é bem complexo de entender.

A estrutura completa do futebol inglês tem cerca de 22 divisões. Da Premier League até a National League (5ª divisão), a disputa é amplamente nacional. Apenas a partir da sexta divisão, os torneios começam a se organizar regionalmente, com duas divisões principais: National League North e National League South.

Por sua vez, na nona divisão para baixo, os campeonatos são distritais e há dezenas de torneios acontecendo paralalamente, como a East Midlands Couties League, a Hellenic Football Division One West e a Dorset Premier League. A partir da 12ª divisão, até os clubes amadores competem entre si.

Em todos os níveis do futebol inglês há a possibilidade de ascenção ou de desenço. Dessa maneira, por mais que seja difícil, um clube modesto pode sonhar em subir para a terceira, segunda ou até primeira divisão; porém, o caminho é bastante longo para todo mundo.

Nesse sentido, a principal diferença do formato inglês para o brasileiro está no preenchimento do calendário. A regionalização das ligas se dá sob um conceito nacional, e não o contrário. Com isso, as equipes conseguem ter uma temporada mais longa de jogos e de competições, além de movimentar a torcida com a possibilidade de subir à divisão de cima.

O sistema do Brasil com apenas quatro divisões e dezenas de campeonatos estaduais desconectados desfavorece a organização dos pequenos, que contam com poucos meses de jogos oficiais ao longo do ano. Além disso, a extrema regionalização de um campeonato estadual da terceira divisão afasta os investidores.

Portanto, um dos principais caminhos do Brasil para a valorização das equipes de menor expressão é aumentar o número de divisões do Campeonato Brasileiro. Os estaduais não precisam acabar, mas podem ser parte de um calendário regional muito mais integrado e comercialmente atrativo.