ANÁLISE: Botafogo-SP é estranho no ninho em ranking de maiores torcidas
Clube de Ribeirão Preto foi o único do interior do Brasil entre os 26 primeiros colocados da lista, apontada pela pesquisa O Globo/Ipec
* Texto escrito pelo nosso colunista Reni Ravaneli, torcedor do Botafogo, jornalista da rádio BandNews FM e do podcast Chuteira Ativista
Uma pesquisa do IPEC, contratada por "O’Globo", revelou nesta terça-feira (19) quais seriam as 26 maiores torcidas de clubes de futebol no Brasil. Mais do que vender jornais, este tipo de levantamento trata de virar assunto nos botecos e nas mesas redondas pelo País em discussões cheias de polêmica e clubismo.
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Os debates, inclusive, tendem a ser repetitivos, porque passam os anos e a escadinha pouco muda, mesmo com diferentes institutos e metodologias de aferição, o que impede comparações diretas. Mas nem tudo está igual. Dentre tanto “time grande” ou de capital, apareceu um intruso na 25ª posição: o Botafogo de Ribeirão Preto.
O hino do Pantera da Mogiana já dizia: “a bravura da sua gente acende nossos corações”. Gente brava e numerosa, segundo o IPEC. Os botafoguenses marcaram 0,3% da massa de torcedores com limite inferior de 0,1% e superior de 0,5%. Se duas mil pessoas foram entrevistadas, seis disseram que torcem ou simpatizam muito com o Fogão, a ponto de citá-lo como segunda opção.
Em números totais, o cenário seria o seguinte. A pesquisa foi feita com maiores de 16 anos, portanto, deixamos de fora 23% da população com idade menor. Com isso, os aproximadamente 215 milhões de brasileiros caem para 165,5 milhões, e os 0,3% de panterinos equivalem a 495 mil pessoas.
Se fosse verdade, o bairro da Vila Tibério, o “berço do Tricolor”, poderia ser uma cidade autônoma. Com 495 mil torcedores, daria para encher 17 estádios Santa Cruz de uma vez só. A realidade, porém, mostra que o Botafogo precisa jogar de 9 a 10 vezes, diante de cerca de três mil torcedores, para – na somatória – preencher totalmente as arquibancadas do Santão hoje. Isto, claro, não diminui em nada a história e a tradição do clube que foi a primeira casa do Dr. Sócrates.
Agora, não fosse o conhecimento de causa, os números poderiam ser reais, factíveis. Ribeirão Preto tem população estimada em 720 mil pessoas (IBGE), a 7ª do estado de São Paulo e entre as 30 maiores do País, superando nove capitais. Além disso, Ribeirão atrai gente de toda a região todos os dias – o movimento pendular na Geografia – por motivos de trabalho e estudo.
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Fazendo uma comparação rápida, 495 mil botafoguenses num universo de 720 mil pessoas, sem excluir os menores de 16 anos, representariam 68,75% dos ribeirão-pretanos, restando pouco do bolo para ser dividido principalmente entre corintianos, são-paulinos e palmeirenses, além de santistas, comercialinos e outros.
Mesmo o limite inferior de 0,1% (= 165 mil pessoas) daria bastante gente. Recentemente, seis estudantes em trabalho de conclusão do curso de marketing na faculdade ESPM, ao qual tive acesso, apontaram uma fan-base de 80 mil torcedores ao Botafogo-SP (sem informar a fonte da informação).
A verdade é que fico curioso em saber o tamanho da comunidade botafoguense e de outras, e não estou aqui descredibilizando a pesquisa. O levantamento, consta, foi feito em 126 cidades de todas as regiões do Brasil e imagino que Ribeirão Preto estava entre elas.
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O município de Campinas, terceiro maior do estado, também pode estar. Se sim, bugrinos e pontepretanos marcaram 0,2% ou menos. Por esse quadro, o Botafogo ganhou o direito de zoar os rivais como o “maior do interior”. Campinas, no entanto, conta meio milhão de pessoas a mais que Ribeirão que poderiam reforçar a torcida de Guarani e Ponte Preta.
São forças raras. Excluindo a capital, só oito cidades paulistas têm pelo menos 500 mil habitantes. Só Ribeirão, Sorocaba e Campinas têm clubes tradicionais. Santo André e São Bernardo são mais recentes. O São José, claro, é tradicionalíssimo, mas anda mal das pernas há tempos. Ufa, chega de números.
Ademais, faço justas menções ao XV de Piracicaba e ao Paulista de Jundiaí, cujos moradores locais torcem ou possuem grande afinidade pelas agremiações. No fim, é o que importa. Se medir o tamanho da torcida é difícil, o tamanho da paixão é impossível.