Com salários atrasados desde março, Magrão desabafa sobre postura do Sertãozinho

Com uma queda substancial no patrocínio e sem a cota vinda da televisão, o Sertãozinho não paga o salário da maioria dos jogadores desde março. Em entrevista realizada em uma live no Instagram do Escanteio SP, o atacante Magrão, líder e capitão da equipe antes da paralisação da Série A2, desabafou sobre a situação e a postura da diretoria.

“A gente sabe que com o que vem acontecendo no mundo, as pessoas estão cortando gastos e o desemprego está crescendo. Mas tem pessoas que precisam, assim como nós jogadores. Nós vivemos disso (futebol) e precisamos disso. Uma das maiores chateações com o Sertãozinho foi a comunicação, a maneira que eles trataram a gente. Deixaram de dar uma satisfação, não tiveram o respeito que deveriam ter, de fazer um acordo ou uma negociação”, disse.

Relacionadas

Magrão ainda contou uma situação no mínimo inusitada. Com a paralisação da Série A2 no dia 15 de março, justamente o dia do pagamento, os jogadores do Sertãozinho foram liberados para retornar às suas respectivas cidades após o revés para o Votuporanguense. Mas a diretoria voltou atrás, convocou os atletas para uma reunião três dias depois e disse que não pagaria o salário por conta da derrota.

“No dia 15 de março, o dia do pagamento, recebemos uma mensagem falando que poderíamos ir para casa porque o campeonato estava parado temporariamente, mas não falaram em pagamento. Existiam jogadores que moravam em Recife, tem pessoas que moram no Pará... como é que um jogador desse vai pegar as coisas de repente, numa segunda-feira, e ir embora? Quando foi na terça-feira, eles mandam uma mensagem falando que ia ter uma reunião na quarta-feira e que era para todo mundo estar presente. Na reunião, eles falaram que não iam pagar a gente porque estavam chateados com a derrota”, contou o atacante.

Em meio à falta de informações vindas da diretoria, Magrão, vendo a situação de alguns companheiros, buscou agir como um porta-voz dos jogadores, mas não obteve retorno em relação aos atrasos salariais e revelou que alguns atletas já acionaram o Sertãozinho na justiça.

“Eu, como capitão da equipe, sempre estou em contato com os jogadores porque a gente tem um grupo. Tinha jogadores com família, com apartamento e despesas para pagar, e não tínhamos resposta. Muitos jogadores, quase todos, procuraram a equipe para fazer um acordo, mas infelizmente não tivemos respostas. Eu mesmo mandei mensagens, liguei e não tive respostas. Não tive retorno do diretor, do supervisor. Infelizmente vai acabar partindo para ação judicial. Acho que alguns jogadores já colocaram na justiça”, revelou.

“É uma situação difícil, a gente recebeu fevereiro e já estamos em junho. Eles poderiam ligar para perguntar do atleta, tirar uma satisfação, não abandonar os atletas como eles abandonaram. Minha maior chateação foi essa”, acrescentou.

Magrão ainda destacou que a diretoria tentou buscar um acordo com os jogadores, mas a proposta foi substancialmente abaixo em relação aos vencimentos originais. Mesmo assim, alguns atletas que precisavam demais da quantia decidiram aceitar a proposta. 

"Eu converso com alguns jogadores e alguns deles estão necessitando muito. Eles falaram: ‘Eu preciso aceitar o acordo de redução salarial’. Não sei quanto. Eles tentaram passar um acordo para o advogado do sindicato, nem foi para nós. O advogado do sindicato entrou em contato conosco, mas foi um absurdo. O que eles ofereceram para nós foi um absurdo. Não tinha condições de aceitar o que eles falaram. E eles disseram que não iam pagar a mais do que isso. Com o passar do tempo, alguns jogadores se manifestaram dizendo que o clube tinha entrado em contato e foi nesse momento que os jogadores que necessitavam muito aceitaram o acordo. Não sei quantos, mas alguns aceitaram”, disse.

O atacante, porém, sequer foi procurado pelo clube. Diante desse cenário, sem receber desde março e ‘esquecido’ pela diretoria do Sertãozinho, Magrão cogita acionar a justiça contra o clube do qual nutre um carinho especial.

“Tentei mandar mensagens, ligar, mas não atendem nem para falar que não vão pagar. Queria até fazer um acordo: ‘Pode parcelar em várias vezes, mas que a gente tenha um acordo’. Ação judicial contra a equipe e ainda mais um clube que tenho carinho grande pela cidade e pela torcida... a gente não gosta disso. Mas precisamos disso, a gente trabalhou, demos a cara a tapa nos jogos, sempre a gente assumindo a responsabilidade. Isso é um emprego, é com isso que a gente traz o sustento para a nossa casa. É uma situação muito difícil, mas temos que tomar uma atitude”, afirmou.

Mesmo com a situação, Magrão, que está em sua segunda passagem pelo clube, se vê vestindo a camisa do Sertãozinho mais vezes na carreira.

“Tenho um carinho muito grande pela equipe. É uma equipe em que me adaptei muito bem, a torcida me recebeu muito bem. É uma cidade muito boa, gosto muito de jogar no Sertãozinho. Infelizmente existem algumas coisas extracampo que às vezes os torcedores não ficam sabendo. Sabemos que todos os clubes no Brasil estão tendo dificuldades, mas acho que a sinceridade, a pessoa abrir o jogo para você, dar uma satisfação... isso seria o mais correto, mas vestiria com o maior prazer”, finalizou.