ANÁLISE: Come-Fogo 170 e o resgate da identidade

Clássico ribeirão-pretano volta à vida em momento único com o retorno das torcidas às arquibancadas após oito anos

* Texto escrito pelo nosso colunista Reni Ravaneli, torcedor do Botafogo, jornalista da rádio BandNews FM e do podcast Chuteira Ativista

Nas ruas e nas redes, é possível notar a ansiedade. Botafoguenses e comercialinos já perdem o sono, se reviram na cama, imaginando o Come-Fogo desta terça-feira (26), no estádio Santa Cruz, válido pela quarta rodada da Copa Paulista. Não é para menos.

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Infelizmente, o clássico de Ribeirão Preto se tornou coisa rara, graças aos desencontros entre os clubes. Melhor nesta década, o Botafogo se mantém, ora firme, ora capenga, no Paulistão desde 2009, na maior sequência para um time do interior só atrás do Ituano. Além disso, joga alguma divisão nacional desde 2015, quando conquistou um inédito título brasileiro, da Série D.

Já o Comercial teve aparições relâmpagos na elite do estadual, em 2012 e 2014, chegou ao fundo do poço em 2017 com o rebaixamento à antiga “Bezinha” (hoje Paulista Sub-23 2ª Divisão), comeu o pão que o diabo amassou por mais alguns anos até conseguir retornar à Série A2 com o acesso neste ano.

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A Copa Paulista virou o principal terreno do Come-Fogo nos últimos tempos. Entre 2008 e 2014, Botafogo e Comercial duelaram 13 vezes, sendo 10 confrontos pela ‘Copinha’, e o retrospecto mostra o equilíbrio: quatro vitórias para cada lado e cinco empates.

Depois disso, houve um longo inverno de sete anos sem o clássico pelo motivo já explicado, que só seria encerrado em 2021 e não da melhor forma possível. Foram dois empates “oxos” na Copa Paulista, e a pandemia de Covid-19 impediu a presença do público. Quer dizer, o segundo jogo, em outubro, poderia ter contado com as torcidas, não fosse a má vontade da Federação Paulista – os “grandes” do estado já enchiam os estádios novamente no Brasileirão por aquela época.

O último Come-Fogo de verdade foi em 6 de setembro de 2014, quando o Comercial aplicou 3 a 0 no Botafogo, em Palma Travassos, pela Copa Paulista daquele ano, que teria o Pantera como vice-campeão. A briga entre as torcidas, antes mesmo do apito final, dispensa comentários.

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Aquele jogo, porém, não foi o último que tricolores e alvinegros dividiram as arquibancadas. Em 22 de dezembro de 2015, aconteceu o curioso amistoso em que o atacante camaronês Samuel Eto'o foi a estrela do evento. O empate por 2 a 2, com três do ex-Barcelona, não entra nas estatísticas das partidas oficiais, mas, houvesse tido um vencedor, a zoeira ao rival ocorreria do mesmo jeito. Afinal, perder nem no par ou ímpar.

A volta do Come-Fogo dá uma pausa na gozação a distância, marca dos últimos anos, e resgata a afetividade e mesmo a identidade, principalmente, entre os botafoguenses, tomados por um momentâneo entusiasmo, que contrasta com a sensação predominante de abandono, sob a SA de Adalberto Batista (sem falar na campanha irregular na Série-C, a prioridade do clube).

Por um dia – até o próximo clássico no fim de agosto –, a disputa sobre quem manda em Ribeirão será mais importante do que o embate sobre quem manda no Botafogo. Os mais apaixonados, porém, continuarão se importando, durante o clássico, com o Santa Cruz setorizado e o escudo mudado (detalhes pequenos, mas marcantes nas críticas à nova gestão do clube).

Come-Fogo de 2021: 0 a 0, também pela Copa Paulista (Foto: Comercial)

O comercialino, por sua vez, sente um clube completamente “seu”, recuperado em parte da herança maldita da Lacerda Sports, mas ainda fora do lugar que merece. O acesso à A2 já valeu o ano.

Inegavelmente, o torcedor do Leão também vislumbra com inveja jogar os campeonatos disputados pelo rival, mas sabe que a alegria de vencer um clássico isolado pode valer mais que qualquer ranking.

Na história, são 61 vitórias do Botafogo, 49 do Comercial e 59 empates. Partiu, Come-Fogo 170!

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