* Texto escrito pelo nosso colunista Guilherme Faber, torcedor da Francana, jornalista dos sites Alto Astral, Yahoo e Terra
4 de dezembro de 1977 é a data que não sai da memória dos francanos, porque nesse dia a Francana conseguiu o tão sonhado acesso para elite do Campeonato Paulista. A “Veterana” de Franca bateu o Araçatuba por 2 a 0 diante de 22 mil pessoas no Estádio Municipal Dr. José Lancha Filho e provocou a festa pela cidade inteira. Vamos voltar ao tempo e recordar essa conquista!
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Presidência, plano financeiro, dispensas, manutenção da base do futebol e basquete
Otto Roberto Sandoval foi eleito por aclamação como presidente da Francana em dezembro de 1976. Na sequência, a diretoria esmeraldina foi composta por Xisto Antônio de Oliveira (Vice-presidente para sede recreativa), Ginez Sanches (Futebol profissional) e o trio Rubens de Mello, André Garcia e José Essado Filho foi designado para o conselho fiscal.
Sandoval foi profissional do setor calçadista e criou o plano “Livro de ouro”, programa em que recebeu contribuições financeiras de várias fábricas de calçados para campanha da Francana no Paulista da Intermediária de 1977 (Atual A-2). Esse plano deu resultado, ou seja, a equipe alcançou condição para montar time para subir.
Do time que caiu antes das finais para Pirassununguense em 1976, permaneceram Marinho, Tuca, David, Silva e Zé Mauro e foram dispensados Carlos Henrique, Sanches, Baiano, Armando, Guarino e Zé Francisco, que foi envolvido em uma troca com Batatais pelo volante Renê.
Sandoval tomou conhecimento da situação do basquete da Amazonas/Franca e apresentou proposta financeira para “Feiticeira” encampar o basquete da empresa de solados. Oferta que foi prontamente aceita pelos dirigentes da Francana e assim o time também passou a representar a cidade no basquete.
Técnico e contratações
O então presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) Alfredo Metidieri indicou o trabalho do treinador Marcos Pavlovsky para Francana, que foi contratado depois de um encontro com Otto em São Paulo. O ex-ponta-esquerda do São Paulo Paraná, Geninho que até então estava no São Bento-SP, Boca, Gasparzinho e Mingo foram os reforços para dentro de campo.
Ismael, Maurício, Manoelzinho, Brandãozinho, Reynaldo, Bando e Mané compunham o elenco. Grupo que ainda foi reforçado no decorrer da Intermediária e esse assunto fica para frente.
“A Francana montou um time com objetivo de subir e foi buscar uns jogadores conhecidos. Foi uma série de jogadores de qualidades que levamos para lá. Fiquei quatro anos em Franca. A Francana marcou a minha vida”, disse Geninho com exclusividade para o Escanteio SP.
Invencibilidade contra Corinthians e São Paulo
A Francana marcou dois amistosos contra o Timão e Tricolor do Morumbi no Lancha Filho para o mês de fevereiro. Eram partidas com foco na preparação para Intermediária. A Veterana venceu o Corinthians em 2 de fevereiro por 3 a 1 com gols de David, Zé Eduardo (contra) e Antenor. Esse revés repercutiu e só aumentou a pressão em cima do técnico alvinegro Duque.
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Já depois frente ao São Paulo o placar ficou em 0 a 0. Geninho evitou dois gols do futuro campeão brasileiro dessa temporada com excelentes defesas e em outra ocasião viu a bola “explodir” no travessão. O camisa 10 são-paulino Pedro Rocha jogou e elogiou o seu adversário em entrevista para o jornal Comércio da Franca: “Mas a Francana foi um bom teste para a equipe do São Paulo”.
Cai Marcos Pavlovsky, e vem Gaspar Berrance com novidades!
Marcos comandou a Francana em cinco jogos preparatórios, não conseguiu manter o padrão tático dos jogos contra Corinthians e São Paulo e foi demitido. Eca Chagas assumiu interinamente no empate contra Internacional de Limeira, na derrota contra a Catanduvense e quem assumiu o comando foi Gaspar Berrance.
Juntamente com Gaspar também vieram emprestados do Villa Nova-MG Leôncio e Zé Antônio. Assis, aquele mesmo do “casal 20 do Fluminense”, veio sob indicação de Berrance para Francana. O atacante Delém foi outro que desembarcou em solo francano e antes defendia o XV de Piracicaba.
Início de Intermediária com Eca Chagas no lugar de Gaspar Berrance
A Feiticeira foi confirmada na Intermediária de 1977 com Nacional, São Bernardo, Aliança, Santo André, Barretos, Araçatuba, Catanduvense, Andradina, Corinthians, de Presidente Prudente, Rio Preto, os limeirenses Internacional e Independente, os rio-clarenses Rio Claro e Velo Clube, Grêmio Sãocarlense, São José, Guaratinguetá e Taubaté.
Os 20 clubes foram divididos pelas séries “Almirante Heleno Nunes” e “Major Brigadeiro Jerônimo Bastos”, onde a Francana estava. O seu começo irregular com derrotas para Barretos e Independente causaram a saída de Berrance. Eca Chagas foi jogador da Francana nas décadas de 40 e 50, era dirigente do clube e foi efetivado como treinador. É o tipo de solução “caseira”.
“Eca era uma figura de Franca. Aquele treinador ‘paizão’ e não havia naquela época o conhecimento tático. Cada um tentava jogar dentro da sua característica. Ele chegou, liberou o pessoal e foi importante nisso. Isso talvez tenha sido a grande contribuição do Eca naquele time. Era uma pessoa querida dentro do grupo”, recorda Geninho sobre Eca.
A saga e o susto contra o Barretos antes do fim da Intermediária
A Francana encerrou a sua participação na Série Brigadeiro Jerônimo Bastos no segundo lugar, desempenho que o colocou na fase final no “Grupo dos Vencedores” com Araçatuba, São José, Barretos, Aliança, Inter, Velo Clube, Independente, Nacional e Sãocarlense. “Campeonato muito forte e movimentou todo interior de São Paulo. Era uma expectativa muito grande da torcida e mexeu com a cidade”, lembra Geninho.
O time esmeraldino ganhou confiança a cada jogo, desbancou o favoritismo do São José nas rodadas finais e poderia garantir o seu título com uma rodada de antecedência se vencesse o Barretos em 27 de novembro, véspera de aniversário da cidade de Franca. O empate por 1 a 1 com Touro do Vale jogou a decisão para o próximo domingo, em 4 de dezembro, no Lancha Filho. Como assim?
Esse adiamento só rendeu porque Araçatuba e São José não saíram do empate sem gols. Incrivelmente a forte chuva que assolava o estádio do time araçatubense impediu o gol da vitória dos donos da casa nos últimos minutos. Os “Deuses do futebol” ajudaram a Francana nessa campanha.
“No dia, Araçatuba, São José, Barretos ou Francana poderiam ser os campeões se ganhassem. Peguei o meu carro depois do jogo contra o Barretos e vim para Cravinhos (SP), a minha cidade natal, e só soube que ficou 0 a 0 em Araçatuba quando cheguei de viagem. Foi na hora que ‘tremi’ mesmo e pensei que não ia dar”, relembra Gasparzinho em contato com a reportagem do Escanteio SP.
Concentração em Sacramento (MG) e motivação constante no vestiário
Franca faz divisa com Estado de Minas Gerais e encontrou em Sacramento a opção para chegar renovada para decisão. A expectativa dos francanos só aumentavam e as cobranças também. Eca não poderia caminhar pela rua que logo se envolvia em discussões sobre escalação e na Francana como um todo.
A delegação esmeraldina treinou de 28 de novembro até 3 de dezembro em uma instalação de uma usina dessa cidade mineira. Era o ambiente calmo em prol do bom futebol do elenco na decisão. Os jogadores deixaram Sacramento com rumo a Franca às 12h, questionaram dentro do ônibus o motivo da cidade “parada” e foi só aproximar do Lancha Filho, que viram 22 mil pessoas.
“Cada um olhou para o outro no ônibus depois que viu esse ‘mundo’ de gente e eu disse: ‘Gente, nós precisamos ganhar esse ‘trem’!”, disse Zé Antônio, hoje falecido. “A torcida acreditava que poderia acontecer o acesso e lotou o Lancha Filho com aquela festa toda. O vestiário era aquele clima de otimismo e um tentando incentivar o outro”, expõe Geninho.
Francana, a caçula da Especial!
Araçatuba tentou estragar a festa da Francana com uma retranca, e os anfitriões apostaram no ataque com Antenor, Delém e Assis. Os visitantes seguraram até no primeiro tempo, mas com menos de um minuto da etapa complementar a Francana abriu o placar com Zé Antônio.
Assis recebeu de Renê, botou a bola na pequena área, e Zé Antônio cabeceou para fundo do gol! Parte da torcida alviverde invadiu o gramado na comemoração desse tento. Logo depois, Antenor dominou perto da área e acertou golaço no ângulo! 2 a 0 e fim de papo! Francana chegou até a elite do futebol de São Paulo. Maurício Sandoval era prefeito de Franca, percebeu as comemorações pela cidade e decretou ponto facultativo no dia seguinte para a festa não acabar cedo.
Quatro anos na elite, quase lá e abandono
A Francana permaneceu na elite do Paulista de 1978 até 1982 e disputou o Campeonato Brasileiro da Série A em 1979. Também conquistou acesso da A3 para A2 do Paulistão em 1996 com seu vice-campeonato. Por pouco não voltou para primeira divisão paulista nas temporadas de 1989 e 2002.
Atualmente, a Veterana encontra-se na B1 (Quarta divisão do futebol de São Paulo) e convive com dívida de R$ 9 milhões. 20% dos seus patrimônios (Sede recreativa e Estádio Nhô Chico) estão penhorados. A atual diretoria aposta no trabalho de formação de jogadores oriundos da cidade para tentar reverter em lucro no futuro próximo.